5 de ago. de 2016

Identidade de gênero

Posted by Unknown on sexta-feira, agosto 05, 2016 in | No comments

(Jaden Smith, 17 anos, filho de Will Smith, usando roupas “femininas” na campanha de verão 2016 da grife Louis Vuitton. A moda genderless, ou moda sem gênero, tem sido uma das propostas de releitura mais populares na moda atual)

Os temas relacionados ao sexo são alguns daqueles que mais parecem gerar dúvidas perante a sociedade. É sempre necessário muita sabedoria e uma reflexão intelectualmente honesta e racional para tratar não só este, mas todos os temas que dizem respeito a existência humana e da sociedade como um todo, evitando preconceitos e argumentos meramente baseados em opiniões próprias.

É um fato que nem todas as pessoas existentes na sociedade se identificam com o sexo de seu nascimento, ou melhor dizendo, seus gêneros não coincidem com sua condição biológica inicial e o papel geralmente esperado pela sociedade para elas. Para dar um exemplo bem em voga na atualidade é o caso dos transexuais; uma mulher transexual pode ter em seu nascimento sido reconhecida como do gênero masculino baseado em seu sexo biológico, mas reconhece a si mesma como mulher, tendo passado pela cirurgia de redesignação de sexo ou não. Os pesquisadores da área tem atribuído esse fenômeno a causas genéticas, sociais, hormonais e psicológicas; o fato é que sejam quais forem as causas elas são as mesmas que definem o fato de uma pessoa ser cisgênero (se identificar com o gênero atribuído quando de seu nascimento).

Mas afinal de contas o que é gênero?

Gênero é uma imagem socialmente relacionada aos genitais, formação psicológica, comportamento e/ou papel na sociedade.

E o que é identidade de gênero?

Se refere ao gênero com que uma pessoa se identifica (Homem, Mulher ou outro gênero não convencional).


"O fato de uma pessoa ter nascido com genitais masculinos não significa, por exemplo, que ela se reconhecerá como homem e nem que se comportará de acordo com o que a sociedade espera que um homem se comporte. A construção do que é regra para mulheres e homens é social e varia conforme a história e a cultura, entre outros fatores.
A nossa sociedade, por exemplo, costuma dar papéis para meninas e meninos desde cedo, ao associar brincadeiras ou cores com determinado sexo. Mas os estudos de gênero mostram que a biologia não está necessariamente ligada com a construção da identidade de uma pessoa como mulher ou homem.

Quem não pertence ao sexo biológico:

Algumas dessas pessoas percebem essa diferença desde a infância. Outras, não. Algumas só se vestem de acordo com o gênero oposto, outras fazem alterações no corpo e cirurgia de mudança de sexo. Não há consenso sobre as definições..." Abaixo alguns dos gênero não pertencentes ao sexo biológico aceitos por pesquisadores e pessoas de não pertencentes ao gênero binário (homem, mulher):

Definições de gênero

Transexual
é a pessoa que se identifica com o gênero oposto ao seu sexo biológico. Ela pode ter feito a cirurgia de mudança ou não. A cartunista Laerte Coutinho é uma mulher trans: nasceu homem, se tornou mulher. Thammy Miranda é um homem trans: nasceu mulher, se tornou homem.
Travesti
pessoas que têm papéis de gênero feminino, mas não se reconhecem como mulheres ou homens. É o “terceiro gênero”. Mas elas sempre devem ser tratadas no feminino. A palavra ‘travesti’ é muito estigmatizada, e discute-se que ela seja substituída apenas por ‘transgênero’.
Crossdresser
é a pessoa heterossexual ou bissexual que se veste como gênero oposto, mas continua se identificando com o gênero masculino.
Drag queen e transformista
artistas que fazem a representação do papel de gênero feminino de forma exagerada e estereotipada.
Genderqueer (ou não-binário)
Um "termo guarda-chuva" (que neste caso embarca várias identidades diferentes dentro de si) para identidades de gênero que não sejam necessariamente homem e mulher, assim sendo não são cisgênero (não se identificam com o sexo atribuído ao nascimento, biológico). Os genderqueer são de uma grande variedade, dês dos que se identificam ao mesmo tempo como homem e mulher até aqueles que não se identificam com nenhum gênero estabelecido.
Andrógino
Aquele que apresenta características, traços ou comportamento imprecisos, entre masculino e feminino, ou que tem, notavelmente, características do sexo oposto.

"COMO a questão é vista pela ciência 

A identidade de gênero é pesquisada desde as décadas de 50 e 60, tanto pelas ciências sociais quanto pelas biológicas, em diferentes áreas da medicina. O professor de psiquiatria na Univers idade da Califórnia, Robert Stoller, definiu nos anos 60 a diferença entre sexo e gênero. Para ele, sexo se refere ao aspecto fisiológico; o gênero está ligado a aspectos culturais, sociais e históricos. Stoller estudou crianças intersexuais (que têm características biológicas de ambos os sexos) e percebeu que, independente do sexo, elas se comportavam de acordo com o gênero com o qual se identificavam. A partir de suas pesquisas, foi um dos responsáveis por cunhar uma das máximas do universo transexual: é mais fácil mudar a genitália de alguém do que sua mente.
O termo transexual foi criado em 1966 pelo sexólogo alemão Harry Benjamin. Foi ele o responsável por estabelecer  os primeiros protocolos para diagnóstico e atendimento desta população: de acordo com sua perspectiva, a transexualidade seria uma doença, e o tratamento hormonal e a cirurgia, a cura.
Hoje a transexualidade ainda é vista como transtorno psiquiátrico pela Organização Mundial de Saúde. Mas isso deve mudar
As causas da transexualidade ainda não são totalmente compreendidas pela ciência. Pesquisadores já perceberam que mulheres transexuais (que nasceram homens) têm um cérebro com características femininas - mas a amostra estudada foi pequena. Há evidências que a identidade de gênero é um traço que nasce com a pessoa e costuma se manifestar ainda na infância.
Uma possível explicação é que, na gravidez, os genitais se formam primeiro, determinando o sexo biológico. Mas o cérebro só se desenvolve depois. Neste processo, uma alteração hormonal pode diferenciar o sexo determinado pelos genitais do que diz o cérebro. Há outros pesquisadores que dizem que a causa é genética.
Hoje a transexualidade ainda é vista como transtorno psiquiátrico pela Organização Mundial de Saúde. Mas isso deve mudar: a OMS deixará de classificar a condição como transtorno em sua próxima versão da Classificação Internacional de Doenças (CID). A expectativa é que a próxima CID seja lançada ainda em 2015.
A medida foi comemorada por setores que defendem a despatologização - ou seja, que a condição deixe de ser vista como doença.
“Será o reconhecimento de pessoas trans como cidadãs que não precisam ter o diagnóstico de um médico ou psiquiatra para legitimarem suas vidas, suas relações afetivas e suas identidades.”
Silvana Nascimento
professora do departamento de antropologia social da USP
Mas a mudança, ainda que positiva, pode trazer prejuízos para essa população. É que a classificação da transexualidade como transtorno é o que garante, por exemplo, que o governo ofereça tratamento hormonal e cirurgia de mudança de sexo gratuitamente para a população trans. É preciso ver, então, de que forma as pessoas trans terão acesso à saúde pública da mesma forma que as outras."

Reflexão: Gênero é uma questão ideológica?

Na cena política atual brasileira alguns tem utilizado pejorativamente o termo ideologia de gênero para tentar frear sugestões de criação e defesa políticas justas para todos os gêneros por questão de conservadorismo ou de não aceitar um fato, que é a existência de gêneros não convencionais dentro da sociedade. É preciso ter cuidado com esses discursos e analisar racionalmente e de forma criticamente construtiva: "será que a instituição de um gênero que não seja o meu na sociedade fere a integridade dos demais indivíduos, a minha integridade ou a integridade da família? ou será que aceitar as diferenças já existentes e aprender a lidar com elas é um ponto positivo para a construção de uma sociedade e família mais fortes?" O fato é que a pesquisa, informação conhecimento e aprendizagem em conjunto nos ajuda a quebrar preconceitos e a evoluirmos como pessoas e sociedade de forma saudável.

Fontes: "Gênero não é "ideologia". É identidade." - Tatiana Dias,
Pesquisas diversas.
 

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